Não é de hoje que os ataques a educação tem tirado o sono de estudantes, professores e servidores públicos do setor educacional. No dia 5 desse mês, foi anunciado pelos jornais, após constatação do GT de transição do novo governo, que Jair Bolsonaro e Paulo Guedes zeraram os cofres do Ministério da Educação, o que levou ao bloqueio de pagamentos essenciais, a exemplo das bolsas de milhares de estudantes e pesquisadores/as da CAPES e programas de formação de professores da Educação Básica, como o PIBID e o Residência Pedagógica.
São apenas três dias de bolsas atrasadas até aqui, mais já posiciona os estudantes em situações de insegurança alimentar; inviabilidade do pagamento dos aluguéis de suas residências, que muitas vezes são compartilhadas com outros colegas, como república estudantil; inviabilidade de deslocamento até as universidades para as aulas; adoecimento psicológico diante da incerteza dos prazos e da pressão do final de semestre aos cumprimentos das demandas de produtividade acadêmica. Toda essa situação nos leva a uma triste conclusão: há muito tempo a bolsa de estudo no Brasil não tem sido para a aquisição de livros ou investimentos outros voltados para a ampliação cultural dos estudantes, mas sim, para sua sobrevivência imediata!
Ante essa situação, a universidade e seus cursos e programas de graduação e de pós-graduação se vêem instigados a se posicionarem, considerando que este ataque fere diretamente a integridade dos/as pesquisadores/as que, faça chuva ou faça sol, estão desenvolvendo seus estudos, formação e pesquisas. Com efeito, somos nós – estudantes, professores e servidores em geral – que fazemos a pesquisa em Educação e a formação de professores, buscando trazer retorno para a melhoria social. E é assim que somos reconhecidos? Recompensados? Com o bloqueio de nossas bolsas que já não dá quase para sobreviver diante da inflação? Parece que sim!
Importa lembrar (nunca é demais!) que o desmonte da universidade pública é um projeto em curso desde 2016 e que, com o avanço das políticas neoliberais em educação, tem se tornado carro chefe na gestão do atual (des)governo federal quando se trata de adoecer estudantes, professores e servidores.
E isso nos faz lembrar quem é o real inimigo da educação, não é mesmo? Então por esse motivo, convocamos todos aqueles/as que compõem a universidade, seus cursos e programas de graduação e de pós-graduação, principalmente os não bolsistas, a somarem na luta com os pares que já estão em situação de vulnerabilidade social. É hora de nos indagarmos: o que podemos fazer enquanto categoria e coletivo? O que individualmente é possível fazer? O que podem fazer os docentes, por exemplo, em relação aos seus orientados? Que gestos, atitudes e iniciativas podem ser adotadas? Uma mensagem de solidariedade? Uma roda de conversa para explicitar e ampliar a compreensão da situação? Uma nota de apoio? Enfim, do ato mais simples aos mais arrojados, tudo pode ser bastante significativo. Um questionamento pulsante e que precisamos fazer ressoar em todas as frentes possíveis de nossa interação social.
Lembramos, enquanto coletivo, que tudo que temos é nós mesmo! E, ao contrário do que o sistema socialmente excludente nos impõe, devemos nos fortalecer enquanto grupos, contrapondo-nos à lógica da produtividade e assumindo a filosofia Ubuntu: “eu sou porque nós somos”. Essa é a nossa força! Resistamos.
Frente ao exposto, o grupo de pesquisa EDUCAS/UECE, vem a público se solidarizar com todos/as aqueles/as que se encontram nessa situação de incerteza e de desvalorização da produção intelectual e científica no âmbito da Universidade, especialmente da pós-graduação e de seus BOLSISTAS CAPES, com destaque para aqueles/as vinculados/as ao Programa de Pós-Graduação em Educação da UECE, mestrandos/as e doutorandos/as.
É urgente que os programas de pós-graduação se posicionem ante essa situação que afeta a todos; que venham somar na luta, que não é apenas dos BOLSISTAS, pois esse não é um problema individual. Parar agora interessa a quem, justamente quando vivenciamos os últimos dias do (des)governo responsável por essa situação? A quem pode interessar todo e qualquer processo de instabilidade? São questões provocativas que merecem nossa reflexão. Por outro lado, precisamos nos organizar e planejar uma agenda de luta, pois a necessidade de sobrevivência é diária e contínua. Nessa direção, propomos uma frente ampla de negociação de como enfrentar mais esse desmonte considerando as condições e necessidade dos estudantes impactados por mais essa medida estapafúrdia. Arregimentar forças e planejar ações de resistência e defesa da universidade pública nesse final de (des)governo e na gestão que se iniciará em 01/2023 é, com certeza, nosso dever.
Coletivo do EDUCAS/UECE.