Narrativas e Práticas Sobre o Ofício de Professor

Isabel Maria Sabino de Farias (UECE)
Ana Ignez Lima Belém Nunes (UECE)
Dele Lima Nogueira (MAE/UECE)

Pensar o passado não deve ser visto como exercício de saudosismo, mera curiosidade ou erudição (…) É compreendendo o passado que podemos dar sentido ao presente e projetar o futuro. (Aranha, 1996)

1. Introdução

A contribuição das narrativas dos professores na compreensão dos saberes fundamentais a formação e autoformação daqueles que elegeram a docência como seu campo de atuação profissional é matéria de crescente interesse no campo da historiografia educacional brasileira. Considerando este ponto de partida, este ensaio aborda a profissão docente e a construção de sua identidade no Ceará, na segunda metade do século XX, a partir da experiência de vida de educadores locais. Toma como referência notas biográficas de três educadoras que exerceram protagonismo no cenário educacional de Aquiraz, município cearense que se destaca na historiografia local como primeira capital do Estado. O trabalho  é resultado da pesquisa Ofício de professor no Ceará – lembranças de vida (OPEM), proposta vinculada a iniciativa mais ampla  apoiada pelo CNPq.

A idéia de resgatar a memória de educadores locais tem como pressuposto a necessidade de ampliar o espectro de informações sobre os professores cearenses e sua contribuição no cenário educacional. A história de vida de docentes que viveram e fizeram a educação cearense emergiu, assim, como uma opção para prosseguir adiante. Esta estratégia metodológica se insere no campo da pesquisa com história oral e tem sido retomada com mais ênfase nas últimas décadas como forma de democratização da própria história. Isto porque ela tem servido de contraponto à história tradicional, cuja ênfase encontra-se nos documentos escrito e nos heróis, relegando os demais sujeitos ao papel de meros coadjuvantes (SIMSON, 1998).

Por permitir registrar o que ainda não se cristalizou em documentação escrita, o não conservado, o que tende a desaparecer se não for registrado (QUEIROZ, 1988), a história de vida apresentou-se como procedimento fértil à compreensão da sociedade através do olhar dos indivíduos que nela vivem (VIEIRA e MATOS, 2001). A adoção desse enfoque partiu do entendimento de que a história oral fundamenta-se na idéia de que os sujeitos são seres de memória e reflexividade que interpretam, significam e resignificam o mundo, suas vidas e experiências.

Sendo assim, a história de vida das entrevistadas possibilitou a compreensão da realidade vivenciada no cenário educacional aquirazense em meados da segunda metade do século XX. Ademais, como lembra Catani (1998), o fato de narrar a sua vida favorece a constituição da memória pessoal e coletiva, inserindo o sujeito professor “nas histórias” e possibilitando, a partir desse exercício, a compreensão e renovação de suas práticas. Ainda que cada depoimento contenha a sua particularidade, é possível identificar semelhanças nas informações transmitidas devido ao fato das educadoras dividirem o mesmo contexto sócio-histórico, conforme pode ser acompanhado na seção a seguir.

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